Adrielle Mont Serrat Bertolino*
O Non-Fungible Token (NFT), no português, Token Não Fungível, nada mais é do que uma criptografia que representa algo único. Tokens, mais especificamente, constituem representações digitais de um ativo real (seja ele tangível ou intangível)1. Uma obra de arte mundialmente conhecida e que só possui um exemplar no mundo, como o quadro da Monalisa, o qual não pode ser trocado e nem mesmo substituído.
Estes tokens seguem esta mesma lógica: qualquer mídia digital, como uma foto, um vídeo ou até mesmo uma música, representadas por um blockchain2 único, podem ser vendidas como uma NFT, e seu comprador passará a ser o seu único proprietário. A partir da tecnologia do blockchain, a autenticidade de uma obra original consegue ser comprovada facilmente a partir de seu registro, que funciona como um selo de legitimidade.
A rede Ethereum, assim como o Bitcoin, é uma blockchain que permite a transferência de criptomoedas entre indivíduos sem a necessidade de uma terceira parte – como banco ou empresa de remessa internacional – para garantir a transação3. Dentro desta rede são vendidos e comprados tokens todos os dias, movimentando e mantendo aquecido este mercado. A título de entendimento, no dia 05 de janeiro de 2023, a cotação de um ether (moeda utilizada dentro da rede) equivale a aproximadamente R$ 6.711,79 (seis mil, setecentos e onze reais e setenta e nove centavos).
Por meio deste artigo, irei explorar como os NFTs estão inseridos dentro dos jogos digitais e como esta é uma estratégia promissora, mas, ao mesmo tempo, potencialmente perigosa.
JOGOS NFT
Dentro da indústria de games já existe uma série de jogos denominados “jogos NFT”. Estes diferenciam-se dos demais justamente pela lógica utilizada, que é a de transformar o game como um todo em algo único. O mecanismo utilizado é a presença de NFTs dentro do jogo, consistindo em peças exclusivas que podem ser compradas e vendidas entre os jogadores utilizando dinheiro de verdade.
Um dos mais famosos da classe, o Axie Infinity, classificado como um jogo play to earn, ou seja, jogue para ganhar, criou a criptomoeda SLP, que os jogadores recebiam após ganhar cada partida. A SLP pode ser usada para a compra de axies (personagens do jogo), os quais são registrados na blockchain como itens únicos. Outro jogo mundialmente conhecido é o Town Star, um simulador de fazenda que alia os ideais de sustentabilidade ao universo das criptomoedas. Sua sistemática consiste na aquisição pelo usuário de NFTs que podem ser convertidas em TOWNS (token criado pelo jogo, conversível em criptomoedas, utilizada para compra de equipamentos, pagamento de sua mão de obra, construção de painéis solares, seguindo o racional de que quanto mais energia ele armazena, mais TOWNS gera).
NFT COMO UMA PROPRIEDADE DIGITAL
Adentrando na definição de metaverso, de acordo com João Pedro Malar: “representa a possibilidade de acessar uma espécie de realidade paralela, em alguns casos ficcional, em que uma pessoa pode ter uma experiência de imersão”4, o modelo de propriedade que será utilizado será o dos tokens não fungíveis. A partir deste modelo, os usuários poderão controlar suas propriedades, bem como serem remunerados pelo seu uso por terceiros. Sendo assim, da mesma forma como a matrícula de um imóvel detalha-o e comprova quem é o seu titular naquele dado momento, o selo de autenticidade do token exercerá semelhante função; ou seja, garantirá a especificidade e a propriedade daquele determinado bem não fungível.
A partir da lógica de escassez e valorização das NFTs geradas dentro dos games, estas passam a possuir valor real de mercado, podendo até mesmo serem objeto de discussão para fins de direito sucessório, integrando o espólio (conjunto de bens deixados por uma pessoa falecida) de usuários do jogo.
A PRESENÇA DO NFT DENTRO DOS JOGOS DIGITAIS: INOVAÇÃO OU ENTRAVE?
A presença de NFTs dentro dos jogos digitais é mais um recurso que pode ser utilizado para aumentar o lucro das desenvolvedoras e mantê-las competitivas frente às novidades do mercado. A inclusão de bens comercializáveis dentro dos games e a possibilidade de transitar com eles mesmos entre diferentes jogos reforça ainda mais a interoperabilidade entre diferentes sistemas e universos.
A partir do histórico de desempenho dos jogos NFT, pode-se visualizar um grande desafio: a retenção do público nestas plataformas. Prova disso é que, em seu auge, o Axie Infinity chegou a ter 2,7 milhões de usuários ativos diariamente em abril de 2021 – 40% deles filipinos. Em setembro do ano passado, o game registrava pouco mais de 110 mil jogadores.5 Além disso, a criptomoeda criada para o jogo, a SLP – utilizada para a compra de itens dentro do jogo, que por sua vez, são os denominados tokens – desvalorizou 99% entre abril de 2021 e novembro de 2022.
Com isso, mostra-se pujante a falta de cuidado dos desenvolvedores em manter o jogo interessante aos usuários, e não tornar as transações envolvendo NFTs um fim em si mesmo, mas sim um dos meios de ganho de capital disponíveis atualmente. É mister a integração entre inovação contínua e melhorias/expansões dentro do jogo para que se possa alcançar a fidelidade dos usuários e a sua permanência como adeptos do game com a maior perenidade possível.
Diante o exposto, pode-se perceber que o mercado de NFTs possui um futuro promissor e que a sua presença dentro de jogos digitais é mais uma inovação que veio para revolucionar as formas de monetização vigentes no mercado de games. Dessa forma, é imperativa a necessidade das desenvolvedoras de aliarem novas formas de ganhar dinheiro a partir de seus produtos a uma estratégia de aprimoramento e retenção dos usuários, mantendo o jogo interessante e com alto número de usuários ativos diariamente.
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1 COQUIERI, Daniel. NFT: O que é, como funciona e como é definido o preço de um token não fungível. Portal do Bitcoin, 2022. Disponível em: https://portaldobitcoin.uol.com.br/nft-o-que-e-como-funciona-e-como-sao-definidos-os-precos-dos-tokens-nao-fungiveis/#:~:text=O%20que%20%C3%A9%20um%20NFT,r%C3%A1pidas%2C%20al%C3%A9m%20de%20mais%20acess%C3%ADveis. Acesso em: 04 jan. 2023.
2 “O blockchain armazena periodicamente informações de transações em lotes, chamados blocos. Esses blocos recebem uma impressão digital chamada hash – um código matemático único – e são interligados em um conjunto em ordem cronológica, formando uma linha contínua de blocos – uma corrente (daí o termo “chain”)”. REDAÇÃO. Como funciona a tecnologia blockchain? EXAME, 2021. Disponível em: https://exame.com/future-of-money/como-funciona-a-tecnologia-blockchain/. Acesso em: 05 dez 2023.
3 INFOMONEY. Ethereum: como surgiu a segunda criptomoeda mais valiosa do mundo? 2022. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/guias/o-que-e-ethereum/#:~:text=O%20Ethereum%20%C3%A9%20a%20blockchain,%E2%80%9Cgas%E2%80%9D%20%E2%80%93%20com%20Ether.. Acesso em: 04 jan 2023.
4 CNN BRASIL. MALAR, João Pedro. Entenda o que é o metaverso e por que ele pode não estar tão distante de você. 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/entenda-o-que-e-o-metaverso-e-por-que-ele-pode-nao-estar-tao-distante-de-voce/. Acesso em 04 jan 2023.
5 CARBINATTO, Bruno. Axie Infinity e o declínio dos jogos “play-to-earn”. Disponível em: https://vocesa.abril.com.br/criptomoedas/o-declinio-dos-jogos-play-to-earn/. Acesso em 04 jan 2023.
*Adrielle Mont Serrat Bertolino, Estudante de Direito pela Universidade Veiga de Almeida (UVA), estagiária do Caputo Advogados Associados, assessoria empresarial especializada em startups e estúdios de games; Membra do Grupo de Estudos em Agronegócios da PUC Minas. www.caputoduarte.com.br