Adrielle Mont Serrat Bertolino*
Nathally Taylor Reis*
Dentro do universo dos games, existem diversas formas de monetização, sendo que muitas delas vão além do valor do produto em si. Em razão dos jogos digitais serem tão populares e contarem com grande quantidade de adeptos, existem múltiplas oportunidades de lucratividade a depender dos variados públicos atraídos para esse mercado pujante.
Validar a melhor forma de monetização possibilita o crescimento exponencial do game, gerando longevidade e a fidelidade de seus usuários. Inclusive, mediante a eventual modificação ou criação de outras formas de monetização ao longo do tempo, a depender do perfil dos seus usuários e/ou das novas experiências criadas.
A monetização em jogos digitais, inicialmente, era restrita a uma compra única, ou seja, um negócio definitivo e simplificado na modalidade de compra e venda. Todavia, atualmente, com mais de cinco décadas de evolução após o lançamento do primeiro comercial em um jogo, existem diversas formas de remuneração que podem ser utilizadas.
Dessa forma, o presente artigo tem como objetivo apresentar as principais formas de monetização para desenvolvedores de jogos.
- PUBLICIDADE EM GAMES
A primeira oportunidade em que as marcas perceberam a importância potencial do marketing de produtos para videogames foi durante a década de 1980, em que se ampliou a publicidade presente nos comerciais na televisão e no cinema.
Nos mobile games, os anúncios no jogo tornaram-se comuns, advindo de tais anúncios deles a maior fonte de receita para os estúdios desenvolvedores. Esse método de monetização se provou extremamente eficaz, sendo, atualmente, o método de monetização mais utilizado.
1 Métodos de monetização mais usados para aplicativos de mobile games em 2021 (Fonte: Statista)
A publicidade tornou-se a estratégia mais utilizada para gerar receita aos usuários que não estão dispostos a pagar para jogar, provando-se, com o tempo, a solução ideal para desenvolvedores,usuários e anunciantes.
Além de disponibilizar a experiência gratuita ao usuário dos jogos, esse método de remuneração possibilita um modelo flexível que pode ser combinado com outros fluxos de receita, como as IAPs (In-app Purchases), compras realizadas dentro do próprio aplicativo.
- MICROTRANSAÇÕES
As microtransações são todas as pequenas compras realizadas dentro do próprio jogo pelo jogador. A microtransação funciona como um atalho para quem não quer esperar ou não tem tanto tempo disponível para jogar e acumular recursos para adquirir o item desejado.
Esse método é a segunda forma de monetização mais popular para desenvolvedores de jogos atualmente. No geral, essas transações são opcionais, dando ensejo ao modelo “freemium” (free no início, mas com possibilidade de compras adicionais para melhorar a experiência e desempenho do usuário).
A microtransação é bastante utilizada nos modelos de jogos chamados de free-to-play (gratuitos), no qual o jogador pode realizar o download do jogo sem valor algum, porém, para avançar de nível ou, ainda, para conseguir mais recursos dentro do próprio jogo (tais como itens especiais, armas, proteções, magias etc), o usuário precisa realizar pagamentos adicionais por essas features.
Ainda, nesta modalidade de remuneração, os preços podem variar muito de produto a produto ou até mesmo de jogo a jogo. Todavia, destaca-se como um dos modelos de remuneração mais rentáveis.
- COMPRA ÚNICA
Na estratégia de compra única, o jogador paga um único valor pelo jogo e poderá usufruí-lo livremente com o pagamento deste valor apenas. Esta modalidade, apesar de ainda ser utilizada, costuma ser combinada, na maioria das vezes, com outras estratégias.
Ao integrar a compra única às microtransações e aos DLCs (Downloadable Content – conteúdos adicionais), pode-se manter a lucratividade do jogo, não restringindo o seu lucro apenas ao momento de aquisição dele, aumentando o LTV (Life Time Value) de cada usuário.
Vale destacar que não há estratégia infalível ou eterna, e até mesmo esta modalidade tradicional e mais comumente utilizada teve que se readaptar ao longo dos anos. Prova disso é a criação de jogos gratuitos, que conseguem obter lucros através de outras formas aqui descritas, evidenciando a preocupação constante dos agentes do mercado de games de estarem atentos ao comportamento do mercado consumidor para não ficarem para trás.
- MENSALIDADE
Por meio da cobrança de uma mensalidade, a monetização do game se dá pela necessidade do jogador de pagar periodicamente para seguir tendo acesso ao jogo. Não é a estratégia mais comumente utilizada, uma vez que, por exemplo, o aumento do custo mensal acaba por gerar resistência por parte dos jogadores em manter sua assinatura.
Através dessa forma de remuneração, em que é possível a cobrança recorrente dos jogadores, está presente um modelo de assinatura na qual os usuários pagam uma mensalidade para poder utilizar o game, principalmente em jogos do tipo MMORPG – sigla em inglês que significa “Massively Multiplayer Online Role-Playing Game”, ou seja, jogos para uma grande quantidade de usuários (jogos múltiplos), conhecidos como RPGs.
- FINANCIAMENTO
Nos últimos anos a modalidade de financiamento mais difundida foi o crowdfunding (financiamento coletivo). A partir dela, pode-se obter, com o investimento de múltiplos indivíduos/empresas, o financiamento do jogo, seja para tirá-lo do papel, ampliá-lo, melhorar sua qualidade ou até mesmo desmembrá-lo em outras versões, aumentando e expandindo as fontes de receita do jogo.
Importante destacar que um dos maiores desafios deste tipo de monetização é a necessidade de maior tempo a ser investido, tanto na promoção do próprio jogo para atrair investidores, quanto na retenção dos investidores que acreditaram e apostaram nele. Com isso, o desenvolvedor terá que se dividir ao mesmo tempo entre a evolução do seu jogo e a manutenção de seu investimento.
- DLCs
Também conhecido como conteúdo adicional ou desbloqueável (DLC), nessa forma de remuneração, o jogo pode conter diversas fases ou outros meios em que o usuário necessariamente precisa pagar para desbloqueá-las.
A sigla DLC é bastante utilizada pelos jogadores e desenvolvedores de jogos digitais e significa “Downloadable Content”, ou seja, “conteúdo extra por download”. Dessa forma, DLC é todo conteúdo adicional que não está presente no jogo base, mas que está disponível para ser adquirido e baixado online para utilização dentro do jogo.
É comum que o jogador se refira a esse termo para se referir a expansões que trazem novos conteúdos, como fases extras e/ou novos personagens para o jogo, aumentando a experiência e ampliando os usuários novamente com um jogo que, muitas vezes, já tinha sido finalizado.
CONCLUSÃO
No artigo de hoje, abordaram-se as diversas possibilidades à disposição de desenvolvedores, distribuidores e publicadoras de lançarem games no mercado e, principalmente, extraírem receita desses jogos. Com o passar do tempo, diferentes formas de monetização foram sendo testadas e o perfil dos consumidores de games foi sendo modificado e não há qualquer indício de que essas mutações pararão por aqui.
Por isso, não há resposta certa e imune à ação do tempo, de modo que amanhã mesmo poderão ser criadas novas formas de monetização e os estúdios deverão estar dispostos a experimentar e ousar na forma de extrair o máximo de retorno de suas criações.
Todas essas produções precisam estar devidamente protegidas, para que os desenvolvedores possam se concentrar 100% no que sabem fazer. Com isso, termos de uso bem elaborados, propriedade intelectual devidamente protegida e contratos corretamente redigidos, detalhistas e adequados às particularidades do universo de games certamente farão a diferença no sucesso das empresas nesse competitivo mercado. Dessa forma, estar assessorado por um suporte jurídico qualificado e especializado em atender estúdios de games é medida indispensável.
1 DONOVAN, Brendan. The Evolution of Gaming Monetization Models. Disponível em: https://ancient8.gg/article/the-evolution-of-gaming-monetization-models&lang=en. Acesso em: 28 de novembro de 2022.
* Adrielle Mont Serrat Bertolino é graduanda em Direito pela Universidade Veiga de Almeida (UVA), estagiária do Caputo Advogados; Membra do Grupo de Estudos em Agronegócios da PUC Minas. www.caputoduarte.com.br
*Nathally Taylor Reis, Estudante da Escola de Direito pela Pontifícia Universidade Católica (PUCRS) e bolsista de Iniciação Científica no Tecnopuc Startups, com atuação em projetos como o Startup Garage, no desenvolvimento do programa e na mentoria de startups, e no TecnopucLaw, iniciativa da escola de Direito para auxílio às empreendedores do Tecnopuc nas suas questões jurídicas. Atualmente, estagiária no Caputo Advogados Associados, assessoria empresarial especializada em startups e estúdios de games.